Acima de Qualquer Suspeita: A verdade está mais perto do que parece
É um thriller psicológico envolvente e repleto de reviravoltas. Estrelada por Jake Gyllenhaal, a trama gira em torno de um promotor de justiça que mantém um caso extraconjugal com uma colega de trabalho. Tudo muda drasticamente quando ela é brutalmente assassinada em circunstâncias que remetem aos métodos de um serial killer já condenado — justamente por ele e pela própria vítima.
Victor Raphael
7/8/20253 min read

"Acima de Qualquer Suspeita" é uma série produzida pela Apple TV+ que, à primeira vista, promete ser um thriller psicológico envolvente e repleto de reviravoltas — e, em muitos momentos, ela entrega isso. Estrelada por Jake Gyllenhaal, a trama gira em torno de um promotor de justiça que mantém um caso extraconjugal com uma colega de trabalho. Tudo muda drasticamente quando ela é brutalmente assassinada em circunstâncias que remetem aos métodos de um serial killer já condenado — justamente por ele e pela própria vítima.
A premissa é instigante: e se o homem responsável por enviar um psicopata à prisão tiver cometido um erro? Ou pior: e se ele for o verdadeiro monstro da história? A série brinca com essa ambiguidade de forma constante, sustentando o suspense ao explorar pistas dúbias, olhares suspeitos e silêncios incômodos.
Ao mesmo tempo, ela se debruça sobre o colapso familiar do protagonista, expondo as consequências devastadoras que a revelação da traição causa em sua vida pessoal. É nesse ponto que a série tenta mesclar drama psicológico com mistério criminal, embora nem sempre com a sutileza desejada.
A direção de J.J. Abrams se destaca pela atmosfera carregada, o uso inteligente de sombras e silêncio, e pela forma como brinca com a percepção do espectador. Jake Gyllenhaal entrega mais uma atuação sólida, equilibrando fragilidade emocional e possível perversidade em um personagem que nunca parece estar completamente à vontade.
Sinopse




Existem subtramas interessantes mas não tão bem construídos, como a rivalidade com um colega de trabalho — um antagonista movido por sentimentos ambíguos de inveja, vingança e amor não correspondido pela vítima. Ainda que esse arco traga um tempero a mais para a trama, por vezes ele soa como um desvio de foco, contribuindo para uma narrativa que tenta abraçar demais, mas não aprofunda tanto quanto poderia.
Apesar de seus méritos, a série em certos momentos peca pela previsibilidade. A insistência em sugerir que o protagonista pode ser o assassino acaba se tornando cansativa, e o mistério central sofre com um ritmo irregular.
Por ser baseado em um best-seller que ainda pretendo ler, então não sei se os erros da história já estavam presentes no livro, mas o verdadeiro crime é o roteiro. Fica a sensação de que a série tinha em mãos todos os ingredientes para um grande sucesso, mas tropeça ao tentar ser muitas coisas ao mesmo tempo.
No papel, tudo parece funcionar. Mas na prática, o que se vê é uma série que claramente não tinha fôlego para oito episódios. O enredo é esticado ao máximo, e o ritmo sofre com isso. Os dois primeiros episódios, por exemplo, quase não avançam. O foco recai demais na relação extraconjugal e em flashbacks desconexos, com cenas de sexo longas e desnecessárias, que pouco acrescentam ao mistério.
O suspense, que deveria crescer a cada episódio, acaba diluído em tramas paralelas que desviam a atenção da investigação central. Há um excesso de tempo dedicado a personagens secundários e detalhes que não enriquecem a história — ao contrário, tornam o ritmo lento e, em alguns momentos, cansativo.
A ausência de cenas mais densas no tribunal, por exemplo, é sentida. Em uma série que gira em torno de justiça, crime e dúvidas morais, esperava-se ao menos um pouco da tensão dramática que filmes como Questão de Honra (com Tom Cruise) tão bem representam. Aqui, esse espaço é trocado por dramas familiares e corporativos que não sustentam a narrativa.
O verdadeiro crime


Se esperar pacientemente pelos oitos episódios, o final pode te surpreender. A reviravolta teria sido excelente se minhas expectativas não tivessem sido drenadas por tanta enrolação.
No fim das contas, "Acima de Qualquer Suspeita" é um bom thriller, mas que poderia ter sido excelente se tivesse apostado mais em profundidade do que em quantidade de camadas. É uma série que vale assistir, principalmente pelos fãs de suspense e de Gyllenhaal, mas talvez deixe no ar a pergunta mais incômoda de todas: e se a melhor parte dessa história fosse a que ficou nas entrelinhas?
Conclusão

